Você já imaginou se sua criança descobrisse que tem recursos de tecnologia simples ao seu alcance para criar a sua própria diversão?
E se na escola, numa feira ou evento, nos espaços culturais da prefeitura da sua cidade e quem sabe até mesmo em casa ela descobrisse que ela pode praticar criar seus brinquedos com as próprias mãos?
Eu sou pai do Vicente que tem 8 anos completos na data que escrevo este texto e tenho praticado isso com meu filho em casa. Ver ele cada vez mais querendo descobrir como pode criar a sua própria diversão, me dá a alegria de vê-lo descobrir também a sua autonomia, através do espaço amparado por mim.
Já experimentamos ferramentas simples disponíveis no dia a dia da maioria das casas. Por exemplo, usamos bastante da queridinha cola quente para criar rápidas conexões, ligamos motores de carro de controle remoto em carregadores de celular, experimentamos modelar alguns cenários com a massa de biscuit e agora o que ele mais está criando são jogos de tabuleiro com papel, caneta, peças de outros jogos. Ele remixa as regras de alguns jogos de tabuleiro que jogamos, criando um cenário exclusivo que faz todo o sentido pra ele e aproveita horas se divertindo.
Sim, ele também adora ganhar um lego Minecraft e montar e brincar com os outros legos. Só que é desproporcional a quantidade de tempo que ele passa a mais, brincando com os jogos que ele mesmo criou.
Eu olho para esse comportamento dele como uma forma de dizer é isso, está funcionando. Com isso eu decido ir a um lugar de compartilhar essa descoberta com você ofertando espaços de criação em diferentes lugares, para que suas crianças também possam vivenciar essa experiência extraordinária que foi muito comum para mim na minha infância.
Eu sempre fui conectado com as tecnologias simples e brincadeiras que me deram criatividade e responsabilidade por criar aquilo que eu imaginava. Seja através de criar uma pista de corrida de tampinhas na areia da praça, com vários obstáculos da natureza como troncos, folhas e poças de água, como também perseguindo setas riscadas no chão pelo grupo de fuga, como se fossem vestígios deixados por uma antiga civilização e vivenciando essa emoção de descobrir o esconderijo.
Frequentemente vejo nas redes sociais essas publicações dizendo que o brasileiro deve ser estudado pela NASA. Para mim a grande mensagem disso é que seja brasileiro ou não, é muito comum e trivial nós sermos capazes de criar o que quisermos com aquilo que está ao nosso alcance.
Na minha vida adulta eu percebi o quanto havia desenvolvido o hobby de criar com aquilo que estava ao meu alcance. Lembro de ter usado alguns dias das minhas férias debruçado sobre um móvel de apoio de pés que a minha gata adorava e havia destruído a espuma, em uma casa de 2 andares para ela, na qual ela poderia fazer o refúgio dela.
Comecei a pensar se era tão divertido isso porque eu não faria dela a minha ocupação principal? Comecei a enumerar diferentes coisas que me impediam, como: De onde eu vou tirar o meu sustento? Será que eu tenho habilidade? Meu conhecimento será suficiente? Eu vou precisar de um monte de ferramentas e impressoras 3D? Como vou encontrar tempo para fazer isso?
Com o propósito de estar em descoberta, comecei a trilhar esse caminho, começando com o que tinha ao meu alcance e para que esse tempo fosse realmente valioso para mim, escolhi fazer isso com brinquedos pois assim essa atividade extra não tomaria o meu tempo de estar com meu filho.
Fiz uma triagem das minhas ferramentas e sucatas disponíveis em casa e comecei a selecionar o que fazia sentido para um projeto de conserto de brinquedos. Alguns itens foram organizados por tipos e tamanhos, tudo em embalagens transparentes dos legumes que comprávamos. Outros itens foram utilizados para construir a bancada de trabalho, com iluminação e tomadas. E tinha aqueles itens que estavam apenas acumulando poeira e não faziam sentido para o projeto e realmente precisavam ser descartados de forma consciente classificados para que pudessem ser reciclados.
Comecei a me dar consciência do grande poder das tecnologias simples me permitindo experienciar com minhas próprias mãos a origem de cada material, reconhecer suas possibilidades de uso, escolher as texturas e designar para aquilo que estava a criar.
É isso que a natureza faz, ela cria vida e raízes no meio do concreto que colocamos para fazer as calçadas. E se eu escolher facilitar esse processo através do meu resíduo orgânico e ao invés de despejar cimento despejar meus resíduos compostados?
Através desse comportamento comecei a refletir e perceber a imensa frequencia que fazia isso inserido na cultura moderna. Descartando diariamente muitos potenciais recursos, preocupado apenas com o meu sucesso financeiro.
Para mim já bastava de servir a um sistema suicida que só quer manter a gente comprando a próxima novidade de tecnologia e esquecendo de me conectar com a vida no planeta.
Copiando o que a natureza faz criando vida com o que está disponível a seu redor escolho apresentar possibilidades divertidas para cuidarmos do nosso planeta.
Quero praticar com meu filho e com outras crianças momentos exclusivos de criação, com o propósito de descobrir desde cedo que podemos criar já pensando em reutilizar. É bem isso que eu fazia quando criava uma pista de corrida de tampinhas na areia.
Quando essa crianças que praticaram isso na infância crescem e tornam-se adultos líderes, terão tido grandes exemplos práticos de como podem criar soluções, seja pensando na embalagem, no impacto do uso do descartável, na mistura de resíduos que dificulta a reciclagem; e proporem alternativas muito mais centradas no reaproveitamento, economia circular e na vida que pode ser cuidada ao invés de destruída.
Saber de onde vem e para onde vão as coisas tem sido o portal do meu caminho para eu concentrar a minha atenção no planeta que eu vivo e que quero criar para viverem os adultos que nossas crianças se tornarão.
A minha presença para essa entrega vai além da minha mente que continua recebendo distrações das altas tecnologias através do smartphone, TV, Netflix, redes sociais, etc.
Quero estar presente também com meu corpo físico, meu corpo emocional, meu corpo energético, minhas sombras e meu ser adulto consciente de que essa é uma caminhada de rápida aprendizagem, aonde os beeps que recebo da vida são o alerta para ajustar e tentar novamente.
Posso continuar o resto da vida tentando unir peças de brinquedos com cola quente e o que terei como resultado poderia ser: Mas que ruim esse brinquedo fica desmontando o tempo todo. Ou também posso escolher um elemento diferente e dizer, agora que o brinquedo está mais firme com parafusos, o que posso fazer para não me machucar com a ponta exposta? Seria cola quente?